A Mais-valia (6)
A mais-valia, também chamada de mais-valor, é imprescindível para a compreensão da dinâmica do capitalismo. É por meio dela que conseguimos entender o mecanismo da exploração humana.
Retomando alguns conceitos: o que determina o valor de uma mercadoria é o trabalho socialmente necessário nela cristalizado. Quem executa esse trabalho? O proletariado. O burguês não trabalha. E, ao trabalhar e criar esse valor, o trabalhador recebe um salário em troca. Mas esse salário corresponde apenas ao tempo socialmente necessário para reproduzir o valor da própria força de trabalho, e não ao valor total que ele gerou ao trabalhar. Ou seja, o que ele produz não tem relação direta com o que ele recebe — o trabalhador apenas recebe o necessário para sua subsistência.
Exemplificando: suponha que você trabalhe em uma fábrica por 8 horas diárias. Em apenas 4 dessas horas, você já produziu todo o valor necessário para pagar o seu próprio salário e, nas outras 4 horas restantes, você trabalha de graça. Exatamente: DE GRAÇA. Esse trabalho "de graça" é o que chamamos de trabalho excedente. O valor gerado no trabalho excedente é apropriado pelo burguês na forma de mais-valia.
Esse é o mecanismo que permite que o burguês lucre em cima da força de trabalho. Você recebe apenas o mínimo para sobreviver (seu salário), e todo o valor que produziu além disso fica na mão do burguês. Existem três formas de mais-valia: a absoluta, a relativa e a extraordinária.
A mais-valia absoluta aumenta conforme a jornada de trabalho se estende. Ou seja, se a sua jornada passa de 8 para 10 horas por dia, o patrão aumenta a quantidade de mais-valia que extrai, aumentando o lucro.
A mais-valia relativa está relacionada à otimização da produção no mesmo período. Por exemplo, em vez de produzir X cadeiras, agora você produz 2X cadeiras no mesmo tempo, mas o salário continua igual. Assim, aumenta-se a extração de valor de forma relativa — você recebe a mesma coisa, mas produz muito mais.
A mais-valia extraordinária ocorre quando uma empresa encontra uma forma de produzir uma mercadoria de modo mais barato que as outras empresas do setor. Por exemplo: várias empresas produzem carros, e uma delas descobre um método para produzir muito mais rápido. Ao vender o carro no mercado pelo preço padrão, essa empresa lucra mais que as outras, pois reduziu o custo por unidade. Ou seja, a mais-valia extraordinária depende da capacidade de uma empresa produzir com menor custo que a média do setor.
O objetivo final da burguesia é sempre aumentar a extração da mais-valia — e isso não é um juízo moral. Marx nunca faz esse tipo de julgamento pessoal contra os capitalistas; ele apenas constata que esse objetivo é aferível na própria realidade.
Ao extrair o lucro por meio da mais-valia, o burguês reinveste esse lucro no capital para expandi-lo e aumentar ainda mais a extração da mais-valia. É um ciclo infinito e incessante. Por isso o capitalismo enfrenta crises cíclicas desde o seu surgimento — como Engels já destacava desde a década de 1870, ao identificar sete crises do capitalismo.
Resumindo o que vimos até aqui: a crítica da economia política de Marx se concentra na análise do capitalismo. O capitalismo é um modo de produção baseado na grande indústria, na divisão do trabalho, na sociedade de classes, na propriedade privada dos meios de produção, na mercadoria como centro das relações sociais e na expansão constante do capital por meio da mais-valia.
E por que isso é importante? Por que estudar o capitalismo? Porque compreender o modo de produção capitalista é o primeiro passo para superá-lo e transformar tanto as forças produtivas quanto as relações de produção. Lembre-se: o marxismo surge como uma crítica ao utopismo. Marx parte da realidade material capitalista — e isso é indispensável para a emancipação da classe trabalhadora.
Ao finalizar a análise do segundo pilar do marxismo (a economia política), resta abordar o último pilar: o socialismo científico. Mas isso fica para outro post. Espero que tenha ficado claro. Até mais, camaradas!
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